que me ausentei da minha presença
inúmeras perguntas toldaram meus olhos
e encheram a minha boca de palavras.
Fez-se em mim o desespero e a angústia,
a certeza e a consolação.
Sem que pense,
sem que indague,
sem que procure,
adivinho as derrotas e as vitórias não minhas
e que hoje me pertencem.
Sinto-me exaltado por motivos estranhos.
E acho-me identificado
com lugares e gentes que não conheço
e que agora são meus.
Deixei de ser uma coisa sozinha.
Desceram sobre mim as distâncias e o impossível,
e a luz branca das estrelas inundou-me de
compreensão.
Sou o monstro de milhões de cabeças e pernas
se arrastando por águas e terras,
se alimentando de insossego e esperança!
E ao longo a eternidade me acenando!
E mesmo que me desperdice e me extravie
nunca estarei só e perdido,
em alguma parte
muitos existirão vencendo a planície
e fazendo a dolorosa jornada,
por mim...
Esta poesia foi excertada do livro de Eliezer Demenezes, que autografou o livro Poemas da Hora Amarga, para meu pai, em dezembro de 1944.